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Vida e obra:

Dona Ordalina Cândido nasceu na cidade de Cambará no Paraná em 1945, estudou no Colégio Imaculada Conceição, em Jacarezinho (PR) no sistema internato e particular. Sua trajetória já se inicia nesse período, pois no colégio era a única criança preta que conseguiu estudar no Imaculada Conceição por sua mãe trocar a força de trabalho, cozinheira, pelo estudo da filha. A jovem estudante numa tentativa de se adequar ao ambiente elitista cursou piano, aula de artes se tornando uma aluna aplicada e no fim de seus estudos se formou como professora.

Já em Diadema teve seu salão de cabeleireiro pelo período de quinze anos o Ordalina Black and White, ciente da realidade que a cercava ensinou jovens o ofício de cabeleireiro cumprindo uma função social de mestra e aprendiz com esses jovens, ao ensinar a profissão de cabeleireira também os direcionava para novas perspectivas de vida e  encorajando a sonhar com novas realidades. Esse trabalho ocorreu durante anos sem nenhum incentivo ou apoio de organizações do terceiro setor ou governamental, ou seja, Dona Ordalina já nesse período construiu essa relação de empoderar as pessoas que cruzavam seu caminho.

Na década de 60 trabalhando na FEBEM, atual Fundação Casa, levou sua metodologia, com a arte ajudando os alunos a trilhar um caminho de autocuidado, de identificarem suas trajetórias podendo assim criar ferramentas para mudanças de pensamento e comportamento adquiridas pelo passado violento. A educadora Ordalina passou por projetos de impacto social, tendo em seu caminho muitos alunos e impactou todos eles. É recorrente ouvirmos relatos de adultos falando de como terem sido alunos dessa mulher preta mudou a vida deles, como ela os conduziam para serem fortes internamente quando estavam nas situações de vulnerabilidade tão conhecidas nas periferias.

A atuação com seus alunos merece atenção no histórico dessa artista, a forma como realiza a passagem do conhecimento do seu processo artístico para os alunos, utilizando de uma pedagogia que perpassa pela forma, não fixa nela, o aluno de Ordalina não fica preso em uma estética que pode pressioná-lo,  ele se aprofunda na origem da expressão utilizando as tintas do jeito que lhe convém. Essa dinâmica que a arte-educadora imprime com seus alunos os faz se sentirem acolhidos, seguros para explorar o terreno da arte.

Ordalina se relaciona dessa forma com todos ao seu meio, ensinando, mostrando e apoiando com respeito a diversidade e o cotidiano que a cerca, sua função na cidade de Diadema não é apenas social e afetiva. A interação e sua  comunicação, principalmente com crianças e jovens, sem julgamento e com acolhimento, assim sua vivência faz com que  a comunidade se torne capaz de tomar suas próprias decisões, de se ver como igual perante toda sociedade. Toda essa vivência descrita até aqui pode ser relacionada a valores ancestrais do pensamento coletivo, que todos são responsáveis pelo bem de todos com generosidade e respeito.

E esse pensamento persiste em Ordalina como artista, seu ateliê até hoje é na sua casa, onde recebe visitas constantes das pessoas que querem conhecer sua arte, dando aulas para quem a pede e partilhando seu espaço de criação com outros artistas, passando madrugadas produzindo arte com a artista plástica, essa rotina evidencia como o seu progresso está a favor de todos.

Permanece no Jd. Inamar seus trabalhos abordam como principal tema os quilombos urbanos, descrição da própria artista. A criação dos seus quadros existe juntamente com as vidas da região onde mora quando utiliza as tábuas dos barracos como tela das suas pinturas. Assim, as marcas do tempo, as histórias dessas tábuas, os moradores que nesses barracos moraram, a violência urbana nos buracos de bala, tudo isso está na arte de Dona Ordalina. Os moradores veem arte em um pedaço de sua história, se reconhecem na arte o valor das expressões artísticas e a importância deles mesmos.

O trabalho da pintura em madeiras recuperadas de barracos também vira uma forma de transmissão do saber de Dona Ordalina ao ensinar as mulheres a fazer pinturas nessas madeiras. O entendimento da dinâmica das ruas com seus ruídos, sons, imagens, arquitetura, estruturas sociais faz as telas terem um recorte profundo e como ela mesma define a sua arte surge por que o povo pede. Muitos dos seus trabalhos são pedidos de pessoas que admiram seu trabalho, e Dona Ordalina faz com a generosidade e o talento que lhe é própria. Como artista descobriu que para pintar não precisava de pincel, pinta com pedaços de panos, com suas unhas e pedacinhos de madeira.

Seu trabalho na ONG Beija-flor que durou vinte anos solidificou o que já era feito de forma fluída por ela, transformar a trajetória de crianças e jovens e poder expor suas obras.

A arte recupera, cura e salva e por isso Dona Ordalina troca com todos os seus conhecimentos, sua criação artística, sua casa, sua arte e fazendo isso projeta com  a cidade de Diadema para o Brasil e exterior.

Como artista plástica, se coloca como autodidata, possui trabalhos em Portugal, Noruega, Inglaterra, Dinamarca, Suíça, Austrália, França e Canadá. Esse trabalho tão importante foi reconhecido quando em 08 de fevereiro de 2018 foi concedido o título de Cidadã Diademense pela Câmara de Diadema.

Mãe de quatro filhos, três mulheres (uma falecida) e um homem, avó e casada só no papel, tem em sua história pessoal que foi preciso enfrentar o machismo e preconceito, que fala da sua história a história do seu avô e dos seus netos é inspiração para composição de música e tema de documentário, nome de biblioteca da Fundação CASA, de cursinho e sua história está no Museu da Pessoa.

Quando Dona Ordalina fala é sobre sua história, conta como conheceu os indígenas de Itanhanhem, de viagens para o exterior, como foram suas exposições e que carregou quadro seu no ônibus para mostrar sua arte. Dona Ordalina pouco explica sua arte, não se atém aos detalhes técnicos de suas obras, mas não faz isso porque seus quadros não tem técnica é justamente o oposto, sua arte é complexa com uma técnica profunda. A  sua história precisa ser dita e redita por ela e por todos que a conhecem para que as sementes plantadas por suas mãos permaneçam dando frutos para sempre.

Para mais informações entre em contato pelo e-mail atelieordalinacandido@gmail.com ou pelo telefone 11 98487-7176.